Este é um assunto polêmico, principalmente, por parte de nossos irmãos evangélicos. Eles gostam de falar que nós católicos somos adoradores de imagens, idólatras entre outras coisas. Os católicos de fato são conhecidos pelo costume de ter imagens de santos, anjos, Jesus ou a nossa querida Virgem Maria. A polêmica sobre a Santidade de Nossa Senhora, vou deixar pra outro momento. Agora no que diz respeito à adoração de imagens, vale uma explicação baseada na Sagrada Escritura. Inclusive fonte, usada pelos nossos irmãos acusadores.
Um dos textos preferido de nossos irmãos é o de Êxodo 20,4-5:
“Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniqüidade dos pais nos filhos, nos netos e bisnetos daqueles que me odeiam…“.
Ótimo! Inclusive é uma belíssima passagem do Antigo testamento. Porém como somos seres humanos dotados de inteligência e não agimos apenas por instinto, vale a seguinte reflexão :
Após sair de uma escravidão de 430 anos no Egito, o povo hebreu estava mais que acostumado à cultura egípcia. Todos nós sabemos que esta cultura pregava a adoração e culto a animais, faraós e outros objetos considerados divindades. Deus precisou dar a ordem de não fazer esculturas pois o povo hebreu era facilmente manipulável neste sentido. Deus em toda a sua sabedoria estava conduzindo Seu povo para Ele através da adoração única e exclusiva. Porém, confirmando a idéia de fraqueza do povo em Ex 32, os israelitas fabricam um bezerro de ouro para adoração. É preciso notar que a Bíblia não condena a criação de imagens mas de ídolos.
“Não fareis ídolos. Não levanteis estátuas nem estelas (pedras com inscrição ou escultura), e não poreis em vossa terra pedra alguma adornada de figuras, para vos prostrardes diante dela, porque eu sou o Senhor, vosso Deus.” (conf. Levítico 26,1).
De fato nossos irmãos estão parcialmente corretos. A bíblia condena expressamente a fabricação de ídolos. Ídolo é um falso deus, algo ou alguém que é colocado ou se coloca no lugar do verdadeiro Deus. Qualquer coisa pode se tornar um ídolo. Dinheiro, ou a busca incessante da prosperidade, ou ainda, a felicidade e a benção de Deus acontece somente se você é próspero financeiramente ou se não tem doença alguma. Ora, isto sim é contrariar as ordens de Deus.
Imagens são apenas representações artísticas, com objetivo único de embelezar, nos fazer lembrar de pessoas que são um exemplo para nós. O ato de ajoelhar-se diante das imagens não significa adoração e sim homenagem. Nenhum católico acredita que as imagens tenham algum poder sobrenatural, ou que vai falar, andar ou dançar.
É comum dizerem que nossas Igrejas católicas são amaldiçoadas porque tem imagens, ou até mesmo, qualquer lugar que tenha em seu interior alguma imagem. Chegando ao cúmulo de algumas pessoas não entrarem nestes lugares por “medo” destas imagens. Interessante notar que o Templo de Jerusalém, construído pelo rei Salomão, continha muitas representações de anjos ou animais:
“Para o interior do Santo dos Santos, mandou esculpir dois querubins e os revestiu de ouro.” (conf. 2 Crônicas 3,10-14). Havia esculturas de Bois e flores (conf. 2 Crônicas 4,3-5) e continua “Quando Salomão terminou essa prece, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto com os sacrifícios; e a glória do Senhor encheu o templo. Os sacerdotes não podiam entrar no templo do Senhor, tanta era a glória que enchia o edifício.” (conf. 2 Crônicas 7,1-2). Onde está a maldição?
“Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão estes querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa, sobre a qual terão a face inclinada.” (Êxodo 25,17-20)
“Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.” (Êxodo 25,22)
Deus serviu-se de imagens para manifestar a sua glória. Os querubins não eram ídolos como as nossas imagens católicas também não são ídolos. Não vale o mesmo critério para nossas representações humanas? Nossos Santos e anjos? Desde os primórdios do Cristianismo, nossos antepassados católicos pintaram e esculpiram imagens de Maria, Jesus, Santos e Anjos. A mais antiga representação da Virgem Maria é datada do século III em Roma e é uma das mais antigas da arte Cristã.
O grande Santo e Doutor da Igreja São João Damasceno (749), foi muito perseguido por ser o principal defensor do uso de imagens para adornos nas Igrejas da época. Disse:
“A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”
O Papa Adriano I (772/795) no Concílio de Nicéia, realizado em 787, a fim de dar um pronunciamento oficial e dirimir quaisquer dúvidas divulgou o seguinte:
“Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres, e da Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto à de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1161)
Portanto, devemos tomar muito cuidado, principalmente no que diz respeito à interpretação da sagrada escritura. Não podemos tomar uma posição radical e fundamentalista em detrimento dos fatos históricos já que na própria Bíblia temos a seguinte recomendação de São Pedro:
“Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2 Pe 3,16).
As imagens, esculturas, pinturas sempre foram uma forma de expressar o testemunho de fé do cristão católico. Muitos que não sabiam ler aprenderam sobre os evangelhos através de desenhos e representações. Após mais de 2000 anos os católicos nunca deixaram de adorar a Santíssima Trindade, onde Deus é único e Soberano.